X CAMILLE CLAUDEL (1864-1943) MULHER , ARTISTA , ESCULTORA e ... MULHER ALÉM DE SEU TEMPO
- Liana Rosemberg
- 2 de mar. de 2022
- 15 min de leitura
Vida e obra
Camille com a partida do irmão diplomata para a China estava mais uma vez só , mas preenchia a solidão com o sucesso . Inesperadamente foi convidada pelo escultor Ernst Nivet a expor no museu de Châtearoux pinturas sobre Harrison . A relação com Nivet foi profícua pois além de vender as pinturas conseguiu expor o gesso maior Sakuntala nesse Museu .
Camille Claudel Sakuntala

A obra foi exposta no hall principal e Camille foi carinhosamente bem recebida pelo Comitê de Arte e com um artigo laudatório no jornal local . Entretanto , tal recepção foi suficiente para que a burguesia conservadora retaliasse a obra e aos que a acataram com epítetos virulentos , piadas sexuais sobre a lenda hindu , local da exposição , custo da obra e até mesmo acusando defeitos na realização da escultura . Chegando ao cúmulo de propor a colocação de uma cortina a esconder a obra !!! Houve por parte dos amigos de Claudel resposta ao ultraje , do crítico Geoffray , “ "Aqueles que viram [Sakuntala] no Salon retém na memória a ciência anatômica e a expressão apaixonada dessas duas figuras ... da Índia vieram as defesas desta artista apaixonada consciente que nos honrou e merece receber a saudação de seus companheiros de Paris e do mundo” ( Le Journal 15 Decembre 1895 citado no “Dossier Camille Claudel” de Jacques Cassar p.130 . Cassar encontrou a escultura em 1975 bastante avariada num canto do museu. Cassar trouxe o fato ao ministério da Cultura que tomou medidas para proteger o que sobrou da obra) Trad livre da autora .Também Mathias Morhard e Rodin (esse por trás dos panos) se manifestaram .
Camille necessitava de algum estipêndio que para trabalhar e viver e graças a esses amigos conseguiu M. Fenaille com cliente .
Camile apresentou duas peças no Salon de 1897 “Le Bust de Madame D." cortado diretamente no mármore e o gesso “La vague” que mais tarde seria realizado em bronze e em ônix. “La vague” apresenta pequenas figuras femininas no centro da peça , enquanto uma enorme onda as ameaçam apontando para uma influência do artista japonês Hokusai muito admirado por Camille . O gesso foi comprado por Morhard mas pago por Rodin .
A nova proeminência de Camille no mundo das artes atraiu a atenção dos jornalistas que queriam escrever sobre ela , sua vida . Ao final de 1896 um artigo anônimo apareceu na Revue encyclopédique Larousse a descrevendo como uma mulher moderna . Um ano depois Henri de Braisne publicou um artigo mais sério na Revue Idéaliste afirmando que “Camille abrira caminho para um tratamento mais iluminado da mulher no mundo das artes quando escolhida para ser parte do júri no Champs de Mars . “Mademoiselle Claudel ao tem rival quando vai de encontro a sua vontade poderosa , seu trabalho incisivo , sua incrível integridade , sua fé na verdade , que para ela é a beleza .” (Camille Claudel “LaRevue Idéaliste 19” ( 19 octobre 1897) citado no Dossier Camille Claudel pp.407-1 ) Defendendo-a contra aqueles que a acusavam de imitar Rodin exaltando ao contrário a originalidade de seu trabalho .
Camille Claudel La Vague 1893-95

O grupo a "Vague" ou "Les Bagneuses" (1893-1895) ilustram o termino das pesquisas de Camille entre 1893-1895 ilustrada pela "Les Causeuses" , a comparação entre as duas obras se explica pelo mesmo cuidado com a miniaturização de uma cena animada pelo mesmo recurso na visão acabada do trabalho em onix . Mas , além dessas analogias técnicas e formais , nuances separam os dois grupos ,"La Vague" ultrapassa a moldura dos estudos da natureza imaginada pela artista em 1893 para testemunhar um novo estilo influenciado pela arte japonesa particularmente nas composições de Hokusai , em voga na época chamada Japonisme uma forte influencia das estampas japonesas realizadas por Kitagawa Utamaro , Suzuki Haruobu e outros . Como nessas estampas Camile utiliza o efeito da onda como elemento decorativo sobre a qual insiste na desproporção em relação ao grupo dos personagens . Esse grupo de "Banheuses" Claudel surpreende sobretudo se relacionado com outras obras de mesmo tema cujos escultores recorrem a um dramatismo teatral herdado das tradições românticas da qual Camille se afasta realizando uma interpretação lúdica do tema tradicional . A obra em gesso foi apresentada em 1897 a Société Nationale , mas só foi exposta em 1905 a galeria Blot na versão em ônix mencionada por Morhardt datada de 1888 . A obra suscitou um número de comentários discretos mas favoráveis . Uma publicação recente de uma carta de Camille ao marchand de antiguidades japonesas Hayashi Tadaasa permite supor a hipótese de compra da obra por um esteta japonês que insiste sobre o estilo evidente do grupo . (Publications de la SociétéFranco-japonaise d`Art et d`Archeologie: deuxiéme colloque franco-japonais – L`age du jaonisme)
Na "La Vague" , três mulheres de mãos dadas brincam na água . Mas de repente foram surpreendidas por uma enorme onda muito alta com torres e cachos que ameaçavam engoli-las . Apavoradas e olhando para cima não poderiam fazer nada para prevenir a catástrofe que iria acontecer . A onda as segurou como brinquedos como uma imensa mão pronta a se fechar .
Kanagawa Hokusai A Grande Onda

"A Grande Onda de Kanagawa", também conhecida como "A Grande Onda" ou "A Onda", é uma xilogravura do artista japonês ukiyo-e Hokusai. Foi publicado em algum momento entre 1829 e 1833 no final do período Edo como a primeira impressão da série “Trinta e seis vistas do Monte Fuji” de Hokusai . Na figura reparem as três embarcações que se encontram na na Baía de Sagami e se tornam pequeninas junto a ameaçadora onda e ao longe o Monte Fuji com o pico nevado .
Em 1888 desejando prestar homenagem ao grande escritor Honoré de Balzac a Societé des Gens de Lettres comissionou a Rodin uma estátua . Somente em 1897 Rodin terminou a comanda sem antes ouvir a opinião/aval de Camille através de M. Le Bossé A resposta de Camile prova que ela e Rodin ainda concordavam sobre o objeto da arte! “....Eu a achei bela e a melhor entre seus estudos sobre o assunto . O acentuado efeito da cabeça contrastando com a simplicidade do costume , bem escolhido e absolutamente chocante . Também gostei da ideia da mangas leves e soltas que expressam bem o espírito imprudente de Balzac . No todo , penso que deve esperara um grande sucesso especialmente entre os reais conhecedores que não encontrarão qualquer comparação entre essa estátua e todas as outras que até então , tem decorado a cidade de Paris”
Quando Rodin mostrou o modelo de gesso de seu Balzac no Salon da Sociedade Nacional de Belas Artes de Paris em 1898, causou um escândalo tão grande e uma rejeição generalizada que a comissão foi suspensa. E não é que o brilhante escultor não tenha dedicado toda sua atenção a obra e colocado nela o melhor que podia dar; Simplesmente , como acontece tantas vezes, a visão sob a qual ele representou o grande homem de letras não foi compreendida. A crítica e o público esperavam algo mais de acordo com sua própria visão míope do que deveria ser um monumento dessa natureza: um herói vestido com todos os estereótipos tão acarinhados (ainda hoje) por uma sociedade cuja natureza se regozija com os mais retrógrados. Estagnação, vivida nas esferas públicas das cidades europeias no final do século XIX. Em outras palavras, talvez Balzac tivesse ficado muito satisfeito com este monumento. O autor da Comédia Humana também causou alvoroço em seu tempo ao expor grosseiramente ou melhor genuinamente as misérias da sociedade francesa em que vivia. Adepto do realismo intransigente, ele se opôs à hipocrisia e aos padrões duplos como uma rocha e com tenacidade lutou contra heróis que sempre têm pés de barro, porque não há nenhum herói neste mundo além daquele que enfrenta a existência com integridade; todos os outros são apenas figuras pálidas. (Não deixem de ler Balzac)
Auguste Rodin A Estátua de Honoré de Balzac

Rodin compreendeu perfeitamente o legado de Balzac e por isso o interpretou exatamente como está nesta estátua que teve que manter em seu estúdio e não pôde vê-la fundida em bronze pelo resto de sua vida . Rodin era muito parecido com Balzac, pelo menos em termos de coragem e rejeição de cânones sociais que ele julgava pueris e falsos. A arte , alguns maliciosamente disseram , é apenas uma mentira , sim , mas é uma mentira que nos faz ver a verdade. Encobrimentos são inúteis na arte de Rodin , não mais do que nos escritos de Balzac ; Ele foi o artista certo para fazer este monumento, apesar dos arrependimentos e do ("in)compreendido".
A história de Auguste Rodin começou em Paris em 1840 e desde jovem se interessou pelo estudo da anatomia. Seu aprendizado foi feito na Escola de Artes Decorativas de Paris, ou seja, fora da esfera acadêmica, o que sempre considerou uma vantagem para si. Ele passou a dominar a anatomia humana a tal ponto que mais de uma vez foi acusado de fazer seus modelos moldando corpos humanos reais. Claro, essas acusações eram falsas, certamente o produto da inveja, que é o atributo do pior medíocre. No entanto, esses eventos lhe deram fama e ele começou a se destacar como escultor. Ele logo percebeu que, dado o potencial que tinha e assumindo que a arte estava evoluindo (ele era amigo dos pintores impressionistas e foi influenciado por eles), ele tinha que assumir uma linha definida, que era como estar no final de uma estrada que se bifurca naquele ponto: o que fazer, ser um artista revolucionário mas pobre, ou ao contrário, ser famoso e ter uma fortuna? Ele decidiu pelos dois. Gostava da vida com as amantes, da boa comida e do gozo da fama, não abdicava de nada disso. Mas, por outro lado, dedicou tempo e seus melhores esforços para desenvolver uma nova arte, desvinculada dos cânones estabelecidos. Ele era, alguns diriam em tom irônico: “um homem prático”; embora outros, puristas obstinados, diriam que ele era um hipócrita ou uma farsa. Nesse sentido, Rodin não fez nada diferente do que muitos artistas fizeram ao longo da história, como Dürer, Ticiano, Rubens, Velásquez ou Goya: desenvolver duas linhas paralelas, uma das quais dedicada a uma arte para ser boa, decorativo e sem grandes pretensões de inovação e outro, mais experimental, profundo e transcendente. Temos que dizer que Rodin se saiu muito bem, porque entrou para a história como um artista em lugar de honra, tanto por suas obras mais tradicionalistas, quanto por suas transgressoras e revolucionárias.
A estátua de Balzac pertence inteiramente a este último. Foi pela Sociedade de Letras de Paris e foi o próprio Emile Zola, na época seu presidente, quem mais insistiu que Rodin fosse encarregado do trabalho. Dedicou-se completamente à realização da obra, para a qual começou a estudar não só a literatura de Balzac e a sua vida, mas também a sua anatomia e características em pormenor, estudou até os tipos regionais de Tours, a terra de Balzac, para encontrar até chave mais recôndita que estava relacionada ao seu modelo. O artista levou quatro longos anos para realizar essa investigação meticulosa, após o que começou a trabalhar no modelo.

Mostra a figura do escritor enfiado em um manto grosso de mangas vazias, em uma postura que parece frágil e instável do lado de fora, como se lutasse para não perder o equilíbrio diante de um violento ataque de vento. Mas ele tem os pés firmemente plantados no chão e olha desafiadoramente para o horizonte com sua cabeça grande e desproporcional de juba leonina. Toda a força está dentro, toda a vontade do grande homem se mostra em sua figura anti-heróica. Balzac era um homem fisicamente pequeno com uma constituição frágil e isso não escapou da investigação de Rodin, é claro; por isso não o representou como um atleta heroico no estilo grego, teria sido não apenas ridículo, mas também falso. A força de Balzac está na verdade, como Rodin fez aqui. A verdade do homem que é grande por si mesmo, não por atributos colocados acima dele. Não é um anão colocado em um pedestal, é o próprio pedestal!
Não só a figura e sua verdade causaram a rejeição dos hipócritas, mas também a plasticidade da estátua, com sua figura borrada e contornos aparentemente difusos, assim como as pinturas dos impressionistas. A veste é levada ao limite de sua estilização, despojado de todo acessório, mas com uma tridimensionalidade transbordante. Nesse sentido, é uma escultura totalmente moderna, livre de lastro acadêmico. Outro detalhe notável são as órbitas oculares, cheias de plenitude apesar de seu evidente vazio, quase poderíamos dizer que nesta figura Balzac projeta os raios de seu olhar em todas as direções.
A fundição de bronze foi feita anos após a morte de Rodin e foram feitas várias cópias do molde que hoje são distribuídos em várias instituições e museus, embora a primeira fundição tenha sido colocada no Boulevard Raspail em Paris, de onde ele contempla com fúria permanente o mundo ao redor vocês .
Enquanto o affaire Balzac causava trepidação no mundo das artes , o affaire Dreyfus colocava a sociedade francesa pés com cabeça . Pouco conhecida em 1894 eventualmente desenvolveu-se numa desonrosa saga de espiões , documentos falsos, manipulação da justiça e anti-semitismo envolvendo as mais altas autoridades do Exército Francês . Alfred Dreyfus , capitão do Exercito Francês , de origem judaica , foi acusado sem provas consistentes de espionar para os alemães . A corte marcial o acusou de alta traição e destituído da patente desonrosa e publicamente , condenado e deportado para a prisão na Ilha do Diabo na Guiana Francesa . A esposa e o irmão lutaram pela sua reabilitação e lentamente fatos foram des-acobertados e conseguindo simpatizantes . Em Novembro de 1897 obtiveram provas de documentos incriminatórios escritos por Esterhazy um carácter duvidoso , foi julgado e que contra o senso comum e qualquer decência perdoado , fato que lançou o affaire Dreyfus como uma bomba no coração da República . Em 13 de Janeiro de 1898 o escritor Émile Zola publicou no jornal Aurore uma corajosa e apaixonada defesa de Deyfrus , uma carta intitulada “J`Accuse” ao Presidente da França atacando o Exército Francês e denunciando o anti-semitismo . Zola foi julgado e sentenciado a pagar uma pesada multa e a um ano de prisão . Preferiu o exilio na Inglaterra . (Vale a pena ler o libelo famoso) Dreyfus foi perdoado pelo novo presidente francês em 1899 , mas livre de todas as acusações somente e 1906!!
Devido a esse fato que abalou a sociedade francesa e a tornou dividida entre os que defendiam Dreyfus (dreyfusards) os que defendiam a justiça e os (anti-dreyfusards) que citavam razões de estado , sensíveis a perda da guerra contra a Prússia em 1870 .
Como Zola era o presidente da Société des Gens de Lettres quando a comissão da estátua de Balzac foi concedida a Rodin , esse ficou numa situação difícil por se recusar a assinar um manifesto em benefício de Zola por ser anti-dreyfusard . Rodin teve que recusar a subscrição para realização da obra assinada por colegas e amigos dreyfusards e guardou a estátua nos jardim de sua residência no Meudon .
A maior parte das familias burguesas francesas formavam uma clã que se apresentavam como um sólido bloco no mundo e os Claudels não eram diferentes , portanto eram contra Dreyfus . Camile apesar de distante da família compactuava a mesma visão política conservadora , embora afastada do Catolicismo , enxergava os Protestantes e Judeus como os de fora , como os diferentes e portanto não confiáveis . Até mesmo o dedicado amigo Morhardt por ser suíço e protestante e defensor de Dreyfus foi transformado em traidor , um patético fim de uma longa e sincera amizade .
Anos mais tarde Morhardt escreveu a Judith Cladel ..."algo mais sério aconteceu em um nivel mais pessoal, algo a tocou profundamente e libertou todos os demônios que ainda estavam presos dentro dela : o conflito sobre seu mais recente trabalho , “Le chemin de la vie” mais conhecido como “L`âge mûr " (Cladel , Judith “Rodin” p.228-29)
Camille trabalhou incessantemente em “L`Âge Mûr” após receber a comissão do Ministère du Beaux-Arts em julho de 1895 . Seis meses depois os fundos recebidos acabaram e Camille solicitou mais dinheiro e o protetor das artes Armand Silvestre ao ver a obra no ateliê atendeu ao pedido e Camille finalizou a obra em gesso em Outubro de 1898 . Camille informou ao M. Hery Roujon Diretor Beaux-Arts que a obra em gesso estava terminada solicitando uma comissão para passa-la ao bronze .
Camille Claudel L`Âge Mûr 1895

Vejamos a avaliação de Armand Silvestre “o homem ao fim da maturidade encontra-se vertiginosamente arrastado pela idade enquanto estende a mão inútil na direção da jovem que tenta segui-lo em vão . A artista fez modificações na sua maquete . Mlle Caudel separou a mão de seu personagem principal da figura da juventude para melhor expressar sua distância Mais ainda , ela envelopou a figura idosa com planejamento esvoaçantes, acentuando a velocidade do seu andar ... com uma fatura moderna . Essas três figuras foram bem estudadas a natureza e incluem-se como belas peças anatômicas . Como se apresenta , o grupo é interessante e de uma técnica muito moderna . Merece uma comissão para o bronze requerida pela artista e eu somente posso dar uma recomendação favorável ao seu desejo” (Armand Silvester 1 novembre1898 ,Archives Nationales .) trad livre da autora
A jovem/juventude permanece sozinha , sobre os joelhos , seu corpo esticado na direção do homem que a está deixando . A composição é desequilibrada , como se empurrasse o velho e dois braços estivessem segurando o homem dos dois lados tão poderosamente que carrega tudo com ele .
Concebida durante a época da separação dos amantes talvez seja provavelmente a obra que envolva mais profundamente a autobiografia dentre aquelas realizadas por Camille . Paul o irmão escreveu “Esta jovem ajoelhada (...) esta jovem nua , é minha irmã! Minha irmã Camille imporando humilhada de joelhos , esta arrogante , esta orgulhosa é assim que é apresentada . Suplicante , humilhada , de joelhos e nua ! Tudo está acabado! É para todo sempre o que nos deixou para olhar”(P. Claudel 1951 pref. Cat. p.10) . Paul analisa que nesse projeto o homem vencido se deixa conduzir e que esse seria Rodin o amante do qual Camille então se separa, o amante retido por sua velha e fiel amante/patroa Rose Beuret , representada por uma alegórica velha .
Absolutamente não concordo com esse tipo de análise , pois Camille sempre se mostrou uma mulher decidida e corajosa não consigo vê-la suplicante e humilhada .
Foi ela que tomou a decisão de afastar-se de Rodin e foi por causa desse affaire com Rodin que a família se afastou dela , exceto o pai . Devemos nos lembrar que Paul detestava Rodin por sua crença católica , não aceitava o relacionamento e o culpava pelo envolvimento de sua irmã com Rodin .
A recusa da comanda em bronze da peça deveu-se a exposição evidente do tema da obra . Na exposição de Maio de 1899 Camille a expôs em gesso junto ao mármore de Clotho e um busto da Condessa de Maigret . Rodin interpretou L`Âge Mûr como sua vida privada exposta ao público e, chocado , ferido e zangado , usou de seu poder para conseguir que a comanda para fundir a obra no bronze fosse cancelada . Pior , no ano seguinte , quando Camille tentou exibir L`Âge Mûr na Exposição Universal de 1900 a obra foi rejeitada supostamente por interferência de Rodin .
SE HOUVE REALMENTE UMA INPIRAÇÃO AUTOBIOGRÁFICA Camille acentuou a dramaticidade do tema , SOMANDO TODA TRADIÇÃO , construindo a obra com um ACURADO CUIDADO de DESEQUILIBRIO NA COMPOSIÇAO . Assim os movimentos de onda trabalhada sobre o piso e no planejamento que lembra o efeito de "La Valse "
Louis Vauxcelles , um crítico renomado escreveu “contemplez longuement ce groupe où la science s`allie à`l`émotion (...) Camille Claudell est sans contredit l`unique femme sculpteur sur le front de laquelle que brille le signe du génie". (Blot 1907) “contemplem longamente esse grupo onde a ciência e a a emoção se aliam (...) Camille Claudel é sem contradição a única mulher escultora sobre a fronte na qual brilha o sinal do gênio” trad livre da autora .
"L`Âge Mûr" foi salva pelo Capitão Tissier , um oficial do Exército Francês , também , um amador de arte que admirou o grupo quando exposto no Salon de 1899 . Em 1901 Tissier procurou por Camille e soube que o grupo em gesso estava abandonado no Dépôt des Marbres e Louis Tissier acordou com a fundição Thiébaut Fréres para fundir a obra e Camille supervisionou fundição . Esse Bronze marcou o retorno de Camille ao Salon des Artistes Français , foi recebida friamente pela crítica . Uma nova edição de seis bronzes de tamanho reduzido foram retomados em 1907 por Eugéne Blot exibidos na sua galeria ao final de 1907 e no ano seguinte 1908 . Infelizmente o tamanho reduzido da edição diminuiu o impacto de ambos os movimentos e a emoção projetada .
Camille Claudel L`Âge Mûr ou A marcha do tempo

Com L`Âge Mûr Camille Claudel mostra na maturidade sua maestria e sua criatividade . A artista trata aqui do tempo que passa , da velhice e da morte temas caros ao simbolismo . A composição perfeitamente elaborada traduz a fuga inexorável do tempo , uma diagonal percorre o corpo da jovem suplicante com a mão estendida do homem e à roupagem da velha mulher . Os diferentes níveis da plataforma acentuam essa marcha que só poderia terminar senão na morte ! Camille exalta na representação muitos momentos da mesma narrativa: a jovem mulher mostra a dor e depois a resignação , a juventude não é eterna , o homem tenta resistir mas logo se deixa arrastar não há como fugir do destino . Camille fundamenta-se sobretudo nos espaços vazios que são parte integrante da obra como por exemplo , o espaço vazio entre as mãos do homem e da mulher o qual exprime por si só toda tensão emocional do momento . A juventude que lentamente dá lugar a maturidade e depois a velhice caminho inexorável que finda com a morte !
Evocada em 1890 numa carta de Camille L`Âge Mûr conheceu uma longa gênese e foi exposta ao público pela primeira vez em 1899 . Após 10 anos de trocas e tratações entre Camille e o Estado Francês a comanda pública ainda que aprovada em mármore e bronze jamais foi a luz .
Detalhe de L`Âge Mûr

Reparem a maestria da musculatura do peito e do pescoço , e as veias salientes indicando a flacidez decorrente da idade . Camille expressa rugas do rosto e a pele flácida e na tristeza do olhar o avanço da velhice . A morte o abraça para que não fuja ao seu destino com um sorriso sorrateiro que lhe ilumina o rosto a certeza de cumprir sua missão.
A obra encontra-se no Museu D`Orsée
É minha opinião pessoal que Camille se superou nessa obra . Mostrou a grande escultora que foi e teria continuado a ser até o final de sua vida como artista . Mas esse é outro lado de sua vida .
Comments