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VIII CAMILLE CLAUDEL (1864-1943) MULHER , ARTISTA , ESCULTORA e ... MULHER ALÉM DE SEU TEMPO

  • Liana Rosemberg
  • 23 de jan. de 2022
  • 8 min de leitura

Vida e obra


Camille e Rodin viajaram por dois meses e na volta Rodin apresentou algumas peças na Exposição Universal de 1889 , uma extensão da retrospectiva da exposição Monet e Rodin . Camille recebe sua primeira comissão um busto da República , ideia do historiador de Fére , cidade natal de Camille , Étienne Moreau-Nélaton . O historiador não levou em consideração s tendências conservadoras da cidade , logo os membros do Conselho da cidade negaram rapidamente o projeto .


Tal fato não desapontou Camille que feliz e descansada estava preocupada em terminar duas esculturas : um busto de Rodin e a La valse


O busto de Rodin


Camille trabalhava no busto desde 1888 , experimentou enorme frustação , porque Rodin nunca podia posar o necessário como modelo O trabalho foi abandonado algumas vezes . A argila secou e a peça começou a se desfazer , mas foi salva quando um molde novo foi tirado do original , permitindo a Camille termina-lo e encastoa-lo em bronze às expensas de Rodin . A peça foi exibida no Salon de 1892 tendo sido bem recebida pelos críticos . Paul Leroi objetou sobre a maneira “rodinesca” de execução do busto . Entretanto , Camille ao criar execução “rodinesca” do busto ela estava honrando o seu mestre ao oferecer um exemplo da excelência do método perfeito !


Camille Claudel Busto de Rodin


Foi entre 1886-1888 eu Camille modelou este busto de Rodin . Ela desenvolveu a essa época nessa escultura uma veia naturalista . No rosto do escultor a saliência de cada músculo e rugas são perceptíveis , representado por traços marcados , o nariz e a fronte fortes.

Se a terra-cota original desapareceu , o bronze executado pela Fundação Gruet permitiu que a obra fosse exposta pela primeira vez no Salon de 1892 . Essa obra de Camille foi imediatamente notada suscitando a admiração dos críticos ! Em 1897 quinze bronzes suplementares foram realizadas elo fundidor Rudier e um exemplar foi legado ao museu da cidade natal de Camile pelo professor Henri Mondor . Mondor cerca de 1900 adquiriu uma de um antiquário do quartier latin .

Esse retrato emblemático de Auguste Rodin esculpido por Camille Caudel acompanha regularmente as exposições consagradas a Camille Caudel ou Auguste Rodin .


Camille Caudel perfil de Rodin

Camille Caude busto 3/4 de Rodin




















La Valse



Camille finalmente exibiu seu grupo intitulado "La Valse" . Por traz da estonteante sensualidade de "La Valse" uma repetida estória de fundo acontece sempre que a artista recorre ao governo Francês por uma comissão . Camille queria uma comissão de mármore pois a seus olhos a escultura só estaria completa com a criação em mármore . Ela era uma escultora perita em mármore , fosse cortando a pedra ou no fino acabamento de polimento com o osso de uma perna de carneiro . Anteriormente em 1889 , já havia uma solicitação para a versão em mármore de Sakuntala que lhe fora negada .


A 08 de fevereiro de 1892 Camille decidiu chamar a atenção do Ministro das Belas Artes para o grupo "La Valse" . O Ministro enviou Inspetor Armand Dayot , para avaliar o grupo . Embora Dayot fosse amigo de Rodin , e pudesse avalia-lo a favor de Camille , ele não escapou ao preconceito da época , que aprisionava a mulher fora de determinados assuntos . Confrontado com uma composição representando um casal valsando nus , Dayot se sentiu muito inconfortável , e no relatório apresentado ao Ministro , podemos sentir o quanto estava dividido entre a sua admiração pela execução do trabalho e a aversão a sua óbvia sexualidade . A recusa se deveu a dois motivos : Primeiro , a violenta e realística alusão que emana da obra , e que a proíbe coloca-la em espaço público apesar de seu inquestionável valor artístico ; a aproximação dos órgãos sexuais indicam um sensualidade surpreendente a qual é reforçada pela absoluta nudez de todos os detalhes humanos ; Segundo a ideia da matéria está expressada de forma imperfeita ... a nudez dos dançarinos é pesada e eles não rodopiam . O encanto é devido à luz de suas roupas. O que caracteriza a luminosidade da valsa é o rodopio rítmico da roupas que dá o movimento aos dançarinos .



As objeções do Ministro das Belas Artes não impediram que "La Valse" fosse aclamada pelos críticos no Salon .


Camille Claudel "La Valse"


La Valse será talvez a mais célebre obra de Camille . Foi concebida entre 1889 - 1893 e corresponde ao período de intensa produção e da relação apaixonada da artista com Auguste Rodin . Nessa versão os valsistas estão nus , entretanto para atender algumas exigências para a obtenção do mármore do governo francês Camille em outra versão colocou roupagem e dimensões mais reduzidas , que foi editada em outros materiais .


No século dezenove a valsa é a dança de casais por excelência nos bailes da sociedade entretanto, a artista não reproduz um fenômeno da moda . A nudez para artista se inscreve então na corrente simbolista . O giro dos dançarinos , a relação próxima do casal traduz a ideia da dança com bastante sensualidade . A diagonal os corpos sublinha o desequilíbrio , dinâmica impressa na saia que amplifica o movimento espiral das figuras , capturando tanto o movimento da dança como a mescla da espiritualidade e sensualidade tão características nas escultura de Camile . Mais abertamente sensual do que Sakuntala , retém um apelo ao sentimento de ternura , abandono e direção . Dessa forma o passo seguinte está definido : a artista mostra um casal num turbilhão que parece nunca acabar . Jules Renard escreve a 19 de março de 1895 , Journal, p. 272 ."o casal deseja ir para a cama e terminar a dança fazendo amor"


Camille Claudel com "La Valse" obtém o reconhecimento de inúmeros contemporâneos . “Um haut et large esprit a seul pu conservoir cette matérialisation de l´nvisible “ écrit Léon Daudet . (somente um espírito elevado e livre pode conservar esse materialismo do invisível) trad livre da autora .


Camille Claudel "La valse"


Camille modificou a peça “La Valse” para o inspetor M. Armand Dayot que examina a peça no final de 1892 início de 1893. Dayot não esconde seu entusiasmo “não são mais dois dançarinos vulgares nus pesadamente juntos , mas um gracioso enlaçamento de formas sublimes equilibradas num ritmo harmonioso ao meio de um envolvimento rodopiante de roupam ... A senhorita Claudel quis sacrificar o menos possível o nu e teve razão . Revelam certos detalhes visivelmente realistas indicando a característica da personagem . Aquela echarpe leve que se cola no quadril da mulher deixando nu todo o torso , um torso admirável inclinado graciosamente com a evitar um beijo, termina numa espécie de rede trêmula . Lembra uma bainha rasgada da qual parece sair bruscamente uma coisa alada! Esse grupo ‘de per si’ bom , de uma originalidade surpreendente , de uma execução poderosa , ganhará bastante se transcrita para o mármore” (Rapport d´Armand Dayot 9 janvier 1893 Archive Nationale F21 4299) trad livre a autora .


A comanda foi preparada mas nunca assinada graças ao Diretor das belas artes cuja visão convencional defendia as limitações impostas as mulheres artistas para a arte oficial . A obra foi acolhida no Salon da Societé National des beaux arts de 1893 com entusiasmo . A obra foi adquirida pelo fundidor Siot-Decauville o modelo está caracterizado por um véu que aparece embaixo das cabeças dos dançarinos .


Com “La Valse” aparecem as obras mais audaciosas e mais personalizadas de Camille , aquelas realizadas com um extremo cuidado da projeção expressionista e desequilibradas das personagens no espaço , sem dúvida são a autobiográficas mais profundas Com essas obras Camille Claudel mostra um gênio totalmente autônomo e toma lugar entre os três grandes do século XIX/XX .



Uma das esculturas de “La Valse” em bronze de tamanho reduzido foi parar enfeitando a prateleira da lareira de Claude Debussy induzindo a especulação de uma possível reação amorosa . (nunca houve) Camille e Debussy foram amigos . Encontraram-se durante o período no qual Camille afastada da família estava mais socialmente visível . A amizade entre os dois floresceu na casa de Robert Godet aonde Camille aprendia o sabor musical que convinha as emoções que tentava exprimir em suas esculturas .


Debussy descobriu nos trabalhos de Camille “um sentimento profundo de intimidade, como um eco de segredo ou emoções familiares vindo de muito de dentro” (Paris Corti 1942 . Debussy Lettres à deux amis p.42) .



La Valse de Maurice Ravel (música)


"Concebi esta obra como uma espécie de apoteose da valsa vienense, à qual se mistura, em meu espírito, a impressão de um giro fantástico e fatal. Situo esta valsa em um palácio imperial, lá por volta do ano de 1855."



Segundo Rafael Fonseca profundo conhecedor de música a quem muito admiro , me atrevo a transcrever suas observações :


"Não é nada sutil o que estou empreendendo no momento; trata-se de uma grande valsa, uma espécie de homenagem a Strauss, não Richard, o outro, Johann. O senhor sabe como é grande a minha simpatia por esses ritmos admiráveis, e que considero a alegria de viver expressada pela dança mais profunda do que o puritanismo franckista". Neste trecho da carta que Ravel escreve ao amigo Jean Marnold em 1906 ele nos informa que a ideia de escrever "A Valsa" foi acalentada por mais de uma década (e ainda aproveita para dar uma porteada na caretice musical do colega César Franck).


Ao homenagear a Viena das Valsas e seu principal nome, Johann Strauss, Ravel acaba por fazer um retrato preciso e agudo de seu tempo. A trilha-sonora que embalava os bailes de Sissi e Francisco José não era mais possível. Um mundo estava sendo sepultado, enquanto a realidade tecnológica, cerebral e movimentada do século XX se impunha. Ravel escreve a "Última Valsa" — e este bem que poderia ser o título da obra — no sentido de que toda a tradição vienense do gênero encontra fim justamente nessa época, e "La Valse" mostra isso. Mostra que o modus-vivendi da Belle Époque não tinha mais lugar .


— "Nuvens em turbilhões deixam entrever, em frestas de luz, casais que valsam. Elas se dissipam pouco a pouco; pode-se então distinguir um salão imenso povoado por uma multidão que gira. O palco ilumina-se progressivamente. A luz de lustres explode no teto e temos uma corte imperial por volta de 1855". Essa é a descrição do próprio Ravel, no alto da partitura, provavelmente para ser usada na concepção dos cenários — não esqueçamos que é obra para os palcos de balé — mas muito bem demonstra o caráter da própria música. A Valsa de Ravel é inquieta, entrecortada, fragmentada, adequa-se à realidade musical de seus dias sem deixar de ser valsa. É violenta — estamos no entre-Guerras — e febril, mágica e poética. É como a rosa posta sobre a sepultura de Francisco José enquanto o último Habsburgo, Carlos I, apeado do trono imperial dois anos antes dela estrear se refugiava em Portugal, pondo um fim a um mundo que não era mais possível .


Aqui um depoimento de minha lavra : a primeira vez que vi a obra “La Valse” de Camille Claudel imediatamente me veio à mente a música de Ravel e sua textura orquestral caleidoscópica , com sua inquietude , a melodia entrecortada , os tempos fragmentados a melodia da valsa surgindo do turbilhão musical dos acordes fortes como uma poesia encabulada , como se florescesse um amor latente com o ritmo da valsa . Ao estudar e me aprofundar na obra e na vida da artista compreendi a razão da primeira impressão ao traçar um paralelo entre a música de Ravel e a escultura de Camille .


Em 1922 numa entrevista a um jornal holandês Ravel afirma :


Mudei o título original “Wien” para La valse , que está mais de acordo com a natureza estética da composição. É um êxtase dançante, rodopiante, quase alucinatório, um turbilhão cada vez mais apaixonado e exaustivo de dançarinos, que são superados e animados por nada além de 'a valsa'”.

 
 
 

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