Prenúncio de mudanças à vista na educação das mulheres e mulheres artistas?

Aos seis ou sete anos , faça-o (seus filhos) aprender a ler , depois os envie a estudar ou praticar um ofício que lhe convém . Se a criança for uma filha coloque-a no recanto e não a ler , pois não é bom que uma mulher saiba ler s menos que a destine ao convento

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Paolo de Certado ca.1320

Perdoem-me , mas agora se faz necessário esclarecer um período da História que contribuiu e muito para as artes .

No século X V que o historiador da arte classifica como Pré-Renascimento a arte da iluminura está em declínio nos monastérios e as mais belas realizações saíam então dos ateliês seculares comandados por mecenas laicos . As religiosas viviam num mundo enclausurado onde nenhuma tradição interna as ajudavam a manter um nível elevado de competência ou a procura de novos temas de inspiração ; o meio no qual trabalhavam era pouco favorável e eclosão de uma arte inovadora. A documentação italiana que se possui indica que a religiosa franciscana Caterina dei Vigri de Ferrara , (1413 -1463) tornou-se superiora de um novo convento em Bolonha , a religiosa era culta segundo os padrões da época , tocava numerosos instrumentos musicais , sabia desenhar , e aprendera a ler e escrever em latim na corte em Ferrara onde cresceu . Dedicou-se pouco as artes e mais as regra de sua ordem . Sua pintura possui um estilo ingênuo , provincial e arcaico . Foi , portanto somente uma diletante . Citemos uma carmelita filha do pintor Paolo Ucello , Antonia (1466 -1491) que segundo Vasari “uma filha sabia desenhar” a única prova é um certificado de falecimento no qual ela é designada como “pittoressa” . A única artista italiana conhecida no século XV é Suor Barbara Ragnone que realizou uma “Adoração dos Pastores” que se encontra na Pinacoteca de Siena . “A adoração” e um exemplo charmoso do estilo da Escola Sianesa do final do quattrocento, onde a tradição local não era tão inventiva do que ao curso do século precedente .

A história dessas religiosas nos levam a algumas conclusões : Ao tomarem o véu a essas mulheres não se oferecia a possibilidade de acesso a pintura ; o isolamento dos conventos não ofereciam nem a formação conveniente nem estimulo de concorrência impedindo o desabrochar de suas verdadeiras qualidades artísticas . Isso nos é confirmado pela personalidade das primeiras mulheres a adquirirem o estatuto de pintoras que aparecem na Itália ao final do século XVI , não são mais religiosas . Sofosniba Anguissola filha de um fidalgote da província e Lavínia Fontana filha de um pintor local . Doravante estamos na presença de outra dinâmica social que permitirá definir antes da análise do caso particular desta ou aquela pintora mulher dessa época .

O Renascimento italiano vive uma transformação radical da imagem que os artistas procuram fornecer a si mesmos na sociedade . Lutavam então para dar o estatuto e as vantagens econômicas de uma profissão intelectual aquilo que era até então considerado e remunerado como o trabalho de artesão. Essas mudanças foram ainda mais difíceis para as mulheres. Não era mais suficiente realizar sua aprendizagem durante sete anos no ateliê de um mestre ; doravante o artista deveria possuir uma formação artística liberal , especialmente desenvolvido no domínio da matemática e perspectiva , e um conhecimento aprofundado na arte antiga ; conhecimento livresco para o estudo teórico e conhecimento direto das verdadeiras das obras de arte conservadas em Roma .

Os princípios desse programa pedagógico estavam definidos no tratado “Della Pittura” de Leon Battisti Alberti que fizeram escola no Quattrocento e Cinquecento. O artista ambicioso e digno do nome devia estudar anatomia do corpo humano a partir de cadáveres , modelos vestidos e aos poucos avançando para o modelo nu ; não deixando de visitar os grandes centros artísticos para estudar seus rivais e os melhores artistas das gerações precedentes .

Ora , era praticamente inviável para a mulher alcançar a um tal nível de educação , usufruir de tal liberdade de movimento ; em casos excepcionais só era permitido as mulheres oriundas de grandes famílias , o mérito de um futuro repousava sobre as vantagens políticas atendidas pelo seu casamento , e não por suas condições de execução artística ou intelectual . Digamos que era impensável para uma mulher respeitável pretender um conhecimento direto da academia masculina .