Mulheres pintoras e a luta para serem reconhecidas como profissionais
- Liana Rosemberg
- 8 de fev. de 2021
- 8 min de leitura
As mulheres confinadas na esfera privada dos lares e das famílias foi a razão pela qual cenas as vida familiar fossem particularmente apropriadas para as mulheres “It may be that in more heroic and epic works of art the hand of man is best fitted to excel ; nevertheless there remain gentle scenes of home interest , and domestic care, delineations of refined feeling and domestic care , and touches of tender emotion , with which the woman artist is eminently entited to deal” ( noted the “English Woman`s Review” in 1857) (pode ser que em trabalhos de arte mais heroicos e épicos a mão do homem seja mais apropriada a executar ; entretanto ainda permanece as gentis cenas de interesse do lar , o cuidado doméstico , as delineações de sentimentos refinados e toques sutis de suave emoção , com a qual a mulher artista está eminentemente preparada para lidar . trad livre da autora)
Assim as imagens das artistas Jane Bokett de mulher de classe media e filhos em casa , e as pinturas das irmãs Haylliard de interiores domésticos e as visões de Hentiquetta Ward sobre a satisfação doméstica contribuíram para moldar representações da domesticidade sem desafiar largamente as verdades mantidas . Imagens como essas não expressam uma única atitude unificada ou um ponto de vista feminino .
Jane Bower Mão e filho na praia

Jane Bower Mãe ensinando a filha fazer torta de cereja


Henriqueta Ward Mãe ao piano cercada dos filhos

Edith Hillard Limpando a cadeira

Outras pinturas de mulheres revelam um aspecto incomum da construção da sexualidade ao redor da proteção e aprovação masculina domesticação e prazeres familiares . Alice Walker em “Sentimentos Feridos” (1861) descreve um grupo de jovens homens elegantemente vestidos e mulheres num interior festivo . Em primeiro plano , um interior escurecido , uma mulher vira-se para consolar outra que deixou a cena alegre atrás , abandonando a luva e o leque quando saiu . Atrás dela no interior da sala cheia de casais , as mulheres fitam intensamente seu companheiros masculinos . Deborah Cherry (“Painting Women : Victorian Women artists” . Cat Rochdale Art Gallery , Lanchire 1987) mostra os rituais de cortejar e as convenções unindo homem/mulher que são opostas a simpatia/empatia e solidariedade da amizade feminina .
Alice Walker Sentimentos feridos

Kate Hillard Memorias

O ideal de limpeza e a ordem do lar Vitoriano , resistiu as representações do esforço laboral necessário a limpar a sujeira e manter a lazer das famílias das classes alta e media . Estas últimas ultrapassam o tempo consumido pelas que trabalhavam nos lares e que geralmente apareciam nas pinturas e fotografias como mulheres subservientes e obedientes confinadas nas suas obrigações no lar .
Os manuais de cuidados da casa enfatizavam uma conduta apropriada as servas , seus trabalhos e limpeza , e estariam abaixo do tempo consumido pela aptidão requerida das mulheres das classes superiores e média que se mantinham ocupadas com os filhos servas e família . Embora não apareçam com frequência nas pinturas , a presença física das servas no lar a faziam prontamente disponíveis como tema para as artistas mulheres . Joanna Boyce as representou dando dignidade e presença da mulher da classe trabalhadora dentro do cenário das expectativas da classe media sobre o trabalho doméstico .
O cuidado da casa foi um aspecto da vida próspera que dependia do trabalho barato abundante de uma função eficiente e “suada” . Enquanto as mulheres servas protegiam mulheres ricas do trabalho doméstico desgastante e físico , outras mulheres , a maioria delas mal pagas e forçadas a um trabalho em condições nada saudáveis a até perigosas suportavam a economia britânica . Embora a classe trabalhadora urbana feminina fosse praticamente inexistente algumas representações de governantas/preceptoras , uma das poucas ocupações pagas abriu-se para as mulheres da classe media e passa a existir .
Joana Boyce A Jamaicana

Joana Boyce Cabeça de negra

Em 1851 , havia cerca de 25.000. governantas/preceptoras na Inglaterra , Emily Osborn em “Home thoughs” (1856) enfatiza a solidão que as governantes que muitas das vezes viajava longe de casa com seus empregadores , mas que raramente ou nunca eram consultadas sobre seus planos. O apuro da mulher de classe media solteira ou talvez obrigada a sustentar-se é o tema de “Nameless and friendles” de 1879 onde descreve uma jovem mulher acompanhada de um garoto entrando na loja de um mercador de arte com uma pintura e um portfolio de gravuras ou desenhos . A pintura está cuidadosamente guardada numa caixa enfatizando a facilidade da mulher em negociar em arte e o isolamento e a pouca ajuda de uma mulher sozinha numa sociedade patriarcal . Enquanto o negociante estuda a pintura com pouca atenção , a outra figura masculina na sala foca seu olhar na mulher , chamando sua atenção para uma reprodução mostrando uma dançarina de pernas nuas . A mensagem é clara: mulheres não tem espaço no comercio de arte; pertencem ao mundo da arte como objeto não como fazedoras ou possuidoras de arte!!
Emily Mary Osborne Home Thougts ( pensamentos de casa)

Emily Mary Osborn Nameless and friendless

Rebecca Solomon em “The Governess” (1854) contrasta a silenciosa governante em seu discreto vestido escuro com a figura animada com o vestido da moda da jovem esposa que toca piano para seu atento marido . Dentro do estreito e estruturado mundo vitoriano do lar e da família , a governanta não possuía um lugar certo e seguro .
Rebecca Solomon A Governanta/Preceptora

Rebecca Solomo A história da Balaclava

Outra pintura que levou em conta as condições de momento do trabalho sobrecarregado e mal pago das mulheres trabalhadoras foi a de Anna Blunden “ The Seamstress” de 1854. O tema é sobre uma costureira que trabalha sob uma luz fraca em um quarto pequeno para produzir roupas feitas a mão de fina qualidade para fregueses da classe media . A pintura foi exposta na Society of British Artists em 1854 acompanhada do poema de Thomas Hood “The Song of the Shirt” (1843) no qual dirige atenção ao empenho da costureira , como a exposição de cinco quadros de Redgrave sobre o tema de mulheres obrigadas para ganhar seu próprio sustento . A pintura executada no contexto de uma investigação sobre as condições da mulher no negócio de roupas e o sistema de sobre-trabalho ou “suado” utilizado em 1840s e 1850s. As condições de trabalho das mulheres foram objeto de relatórios no Parlamento , assim como artigos no “Magazine Fraser” , no “Pictorial Times” e no “Punch” , mas os reformadores das classes media e alta geralmente dirigiam sua energia para melhorar as condições de trabalho mais do interessados em acabar com esse tipo de trabalho explorador !! (esse tipo de manobra lembra algo?)
Ana Blumen A Costureira

A temática da mulher trabalhadora se entrelaça com o da sexualidade feminina e com o controle do homem sobre o corpo da mulheres . Houve arguições sobre se a estabilidade do lar Vitoriano se apoiava em parte na existência das prostitutas ; a feminilidade da domesticada classe media estava segura pelo constante contraste entre ao perigos da sexualidade feminina desregulada . Conhecendo a extensão na qual , a pureza e a moralidade da mulher classe media , era definida em oposição a imoralidade da prostituta apareceu uma nota em 1868 no “Westminster Rewiew” que , “Prostitution is inseparable from our presente marriage customs as the shadow from substance . They are two sides of the same shield” . (A prostituição é inseparável do nosso atual costume de casamento como a sombra da matéria . São dois lados do mesmo escudo . Trad livre da autora) ---- creio que apesar de muitas mudanças ainda um resquício do pensamento “esposa mãe dos filhos deve ser respeitada em sua sexualidade” a “outra é mais adequada ao puro prazer sexual” possa de alguma forma permanecer , ou ainda permanece .
Em 1840 surgiram uma serie de publicações de tratados sobre prostituição . Foi nesse momento que Susan Casteras (Casteras , Susan . “Visions of Victorian Womenhood in English Art” . London 1897) sugere que descrições de prostitutas na pintura começam a aumentar atingindo o auge nas décadas de 1850e 1860 . Numa época obcecada com virgindade e prostituição temas de prostitutas e mulheres descaídas encontram vasta audiência . Muitas representações de queda de mulheres da virtude e suas consequências foram executadas pelos membros da Irmandade Pré Rafaelita .
Sir John Everet Millais Ofélia personagem de Hamlet

John Collier Lilith

Holman Holt O despertar da consciencia

Sir Edward Burne Jones Golden Stairs

Dante Gabriel Rossetti Pia de Tolomei

Dante Gabriel Rossetti Beata Beatrix

A “Beata Beatrix” de Rossett é representa a Beatrice de Dante, mas nesse momento Rossetti representa a sua esposa morta Lizzy Sidal a quem muito fez sofrer . A necessidade de comemorar o morto é um impulso básico humano . Na arte , usualmente se expressa em escultura funerária como monumentos sobre a tumba . Rossetti pintou com vigor neste caso . Ele reviveu seu luto testemunhando sua crença na arte imortal enquanto chora pela mortal . O terreno estava bem preparado para o tema básico dessa pintura na extensão de identificação de Rossetti como Dante e de Lizzy como Beatrice . n pintura “Beata Beatrix” ela parece estar em êxtase como por um instante na escultura de Santa Tereza de Bernini um êxtase tanto religioso quanto sexual . Atrás da Lizzy podemos observar duas figuras de Dante e do Amor se entreolhando . Junto de Beatrix um pássaro da Anunciação que se torna o mensageiro da morte e traz ao bico uma flor vermelha da paixão símbolo do sono e morte e também a fonte do ópio droga pela qual ela morreu . Uma rica e pesada atmosfera moldando o real e o irreal como um singular casamento do sensual e etéreo
Evelyn de Morgan A prisão da alma pré-rafaelita

Evelyn de Morgan Medeia

Unica artista feminina encontrada na Irmandade Pré-Rafaelita
Interessante observar que não existe uma única referencia sobre pintoras nos livros nos quais pesquisei ; Hilton , Timothy ""The Pre-Raphaelites” Thames & Hudson London 1970 . Jan Marsh “Pre-Raphaelite Women” Weinfeld & Nicolson Ltd Great Britain . 1987 .
As imagens de prostituição , como os sentimentos de moralização do gênero de pintura doméstica , focalizam a atenção em um dos aspectos mais complexo e ambivalente do pensamento vitoriano , a atitude da sexualidade feminina . Explorando esse fato como interseção , velado por discursos da medicina , vivissecção pornografia e joga alguma luz sobre o imaginário animal revelando alguns caminhos de como a representação pode funcionar na construção da sexualidade feminina . Também ajuda a compreender a fenomenal popularidade da pintora francesa Rose Bonheur .
Alguns temas na pintura fizeram jus a um grande público ou foram largamente reproduzidos como aqueles pertencentes aos animais . É legendário o amor dos britânicos pelos animais . Desde a Rainha Vitória que encomendou a execução dos retratos do cachorros reais a Maud Earl e Gertrude Massy até John Ruskin que chamava suas pintoras prediletas de PETS! Sir Edwin Landseer era o pintor de animais preferido da Rainha Victoria e um dos mais bem sucedidos pintor de animais na história . Construiu sua reputação pintando animais frequentemente cachorros , significando masculinidade , uma classe específica de valores morais .
Maud Earl West Higland Whit Terrier

Maud Earl Greyhounds

Sir Edward Lanseer O campeão

A princesa Victória e cachorro Eos

Não só foi a busca por expressões de sentimentos desligados das amarras sociais que contribuiu para a dedicação à imaginária animal dos britânicos do século 19 , como também contribuiu para a a fruição da fama de Rosa Bonheur na Inglaterra .
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