Marieta Robusti¸ Judith Leyster , e as David teriam sido mulheres artistas ainda quase invisíveis?
- Liana Rosemberg
- 9 de nov. de 2020
- 4 min de leitura
Vamos considerar três casos paradigmáticos de três séculos : Marietta Robusti século XVI ; Judith Leister pintora holandesa do século XVII e o grupo do círculo do pintor francês Jacques Louis David do século XIX. Suas histórias não só elucidam os caminhos da História da Arte enfatizando o gênio individual distorcendo a compreensão da atuação dos ateliês e a natureza da produção artística colaborativa , como também ilustram como a muito próxima aliança da História da Arte com a economia do mercado de arte afetou a atribuição da arte das mulheres. Vamos as histórias dessas mulheres artistas .
Marietta Robusti era a filha mais velha de Jacopo Robusti pintor veneziano conhecido como Tintoreto . Marietta e seus irmãos Domenico e Marco entraram jovens para o ateliê do pai . No século XVI na Itália os ateliês eram organizados ao redor dos membros próximos da família e podem ser classificados como oficinas sob a regulamentação das guildas dos século XII XIV. Comumente atribuía-se os progressos dos alunos pintores a influencia do mestre e seu estilo , uma concepção dos estudiosos modernos .
A autonomia social e econômica de Marietta Robusti não era maior do que as de outras mulheres artesãs . Segundo Carlo Ridolfi biógrafo de Tintoreto publicado em 1648 , sugere que a habilidade musical e de comportamento eram fruto da mudança do ideal feminino que então enfatizava estas habilidades musicais e artísticas para as mulheres como também alguma educação . (uma luz no fim do túnel ? pouco provável) Marietta trabalhou por quinze anos com o pai , e sua fama como retratista espalhou-se chegando as Cortes da Espanha e da Austria . Ela foi convidada pelo Imperador Maximiliano II e posteriormente Felipe II para pintora da corte . Seu pai não permitiu que ela fosse e arranjou-lhe um marido .!? Como mãe de família continuou no ateliê do pai até morrer aos trinta anos de parto . Sua pintura era suficientemente boa para ser confundida com a de único retrato Tintoreto . Muitos estudiosos modernos atribuem a ela uma única obra “Retrato de um ancião com garoto” (c.1585) Por muito tempo foi considerado o melhor retrato de Tintoreto , foi somente em 1920 que o retrato foi reconhecido como assinado pelo monograma de Robusti , mesmo assim a atribuição tem sido questionada . (Nochlin, Linda . Women Art and Power , pp 1-36)
No século XIX o interesse por Robusti transformou-se num tema popular para os pintores românticos . O quadro de Léon Coignet “Tintoreto pintando a morte de sua filha” em 1846 inspirou os pintores Girardet e e Pagliano a produzirem obras com o mesmo motivo . Foram seguidos por Philipe Jeanro com a obra “Tintoreto e sua filha” em 1857 , na qual a filha do pintor torna-se modelo e musa para seu pai .
Tintoreto e a filha moribunda Marieta Robusti

O ancião e o jovem

Durante esse período Robusti figurou em um conto de George Sand e numa peça do pintor Luigi Marta “Tintoreto e sua filha” levada a cena em Milão em 1845 incluindo a cena da morte na cama na qual a jovem morta inspirou Veronese . Esta bizarra , mas comum transformação de seu direito da mulher artista produtora em motivo para representação fundamenta o leitmotif na História da Arte . Negando sua individualidade ela é deslocada de ser a produtora tornando-se , ao invés uma indicação /emblema para a criatividade masculina .
Desde que o valor monetário das obras tornou-se intrinsicamente ligado a atribuição de “nomear” artistas , o trabalho de muitas mulheres artistas foi absorvido pelos seus mais conhecidos colegas masculinos !!! Fato que embora não fosse restrito ao trabalho feminino contribuiu para a diminuição da produção pelas mulheres . ( quem em sã consciência gostaria de ter seu trabalho assinado por outrem ou ignorado?)
Pelo texto acima não causa surpresa que Judith Leyster uma das mais conhecidas pintoras do século XVII na Holanda tenha ficado quase que perdida pela história desde o final daquele século até 1893 , quando o marchand Cornelius Hofstede de Groot descobriu seu monograma na tela “ O casal feliz” (1630) que acabara de vender ao Louvre como um Franz Hals! (James Lever “de mulheres artistas”).
Jacques Louis David professor cronista da Revolução e pintor de Napoleão de 1780 até seu exilio em 1822 . David deixo sua marca em muitas mulheres pintoras . Mais ainda , incentivou suas alunas mulheres a pintar retratos e motivos históricos submetendo-os regularmente ao Salon . A publicação da lista de todos os retratos expostos nos Salons entre 1800 e 1826 realizada por George Wildestein deixou claro a profusão de retratos executados ao estilo Davidiano. , contribuindo diretamente para a re-atribuição do “Charlotte du Val d`Ognes” a Constance Marie Charpantier em 1951 , do ”Retrato de Antonio Bruni” a Césarine Davin-Mirvau em 1962 e o do “Dublin-Tornelle” a Adélaide Labille-Guïard em 1971 . As três foram seguidoras ou alunas de David e seus retratos como os trabalhos de David se caracterizam pela forte presença do modelo frequentemente sobre um fundo escuro , clareza da forma , acabamento acadêmico , e franca definição de caráter . Muito se discutiu sobre a atribuição da obra a pintora Contance Marie Charpentier , somente em 1977 , sessenta e cinco anos após o aparecimento de um artigo de Sterling (Sterling, Charles “ a fine David reattributed Metropolitan Museum of Art bulletin v. 9 pp 21-32.) o Metropolitan Museum N.Y. trocou o titulo da obra para mais uma vez onde se lê “pintora francesa desconhecida” .
Os casos de Marietta Robusti , Judith Leyster e as “Davids” revelam o papel que assumem pela moderna concepção do valor estético do trabalho de arte . E . . . .continuam pouco conhecidas (Women painters” Saturday Book vol 24,1964 p 9) e ou ignoradas como mulheres artistas
Dublin Tonelle

Antonio Bruni


` Portrait de Madamemoiselle Charlotte du Val D`ogne
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