Artistas mulheres sempre existiram ? Invisíveis ainda?
- Liana Rosemberg
- 29 de out. de 2020
- 5 min de leitura
Já vimos que existiram mulheres artistas na Grecia Helenística como relatado por Plinio o velho no seu livro História Natural (77d.C.) , como Timarete , Aristarete e Olympia . Duas filhas de pintores como Helen do Egito conhecida por pintar a Batalha de Issus incluindo Dario e Alexandre , e Iaia de Kyzikos famosa por seus retratos femininos e velocidade espantosa ao pintar excedendo seus competidores masculinos . Avancemos para descobrir mais sobre a história das artistas mulheres
O acesso ao convento centro da educação e vida intelectual e artística de mulheres dos séculos seiscentos e setecentos era frequentemente destinado pelo nascimento nobre .
A maior parte da arte durante o período medieval era produzido nos monastérios . Embora a História da Arte tradicional omita as mulheres das discussões das produções dos monastérios na sua imagem fidedigna, existem evidencias consideráveis no século oitavo , de que abadessas poderosas e cultas de famílias nobres dirigiam scriptorias nas quais manuscritos eram copiados e iluminados . É quase impossível a identificação do gênero dos autores e escribas, mas podemos presumir pela existência nos mosteiros/conventos tanto monges como feiras/monjas estavam envolvidos com a composição , cópia , iluminuras dos manuscritos .
Documentos do período revelam uma impressionante lista de nomes de mulheres vinculada a manuscritos após 800 d.C. quando o Convento de Chelles , sob a direção da irmã de Carlos Magno , Gisela , produziu treze volumes de manuscritos inclusive três volumes comentários sobre os Salmos assinados com nome mulheres escribas . As mulheres tratavam da iluminuras e cercaduras como comprovam : a carta escrita em 735 , por St. Bonifácio a abadessa Eadberg de Minst em Thanet (Alemanha) agradecendo o presente dos livros espirituais e solicitando que ela transcreva para ele em ouro a epístola de seu Senhor São Pedro ; O manuscrito “Beatus Apocalipse” escrito e iluminado no monastério nas montanhas de Léon , a nordeste da Espanha pelo padre Senior , foi pintado pelo monge Emetrius e por uma mulher chamada Ende . Essa mulher se intitula DEPRENTIX (pintora) e DEI AIUTRIX (ajudada por Deus) segundo o costume das mulheres nobres da época. (King Goddard, Georgiana, ”divigations on Beatus” Art studies v. 8 pp 33-55 1976) Ela foi identificada com a escola de iluminadores e trabalhadores em pedra calcária na Espanha Medieval, incluindo a poetisa Leogundia . O fato é que ainda que não seja possível precisar o papel desempenhado por Ende e suas contemporâneas , a certeza moderna de que somente os monges trabalhavam na escriptoria é uma visão errônea.
Vejamos outras evidências . O trabalho nas escriptorias Otoniana do século XII era volumoso e a maioria dos iluministas eram mulheres , ativas como parte desta florescente cultura . Entre elas está Diemud do Mosteiro de Wessobrun na Bavária deixou pelas suas mãos 55 livros que se distinguiam a ornamentação das letra iniciais . Outra freira Gulda escreveu e pintou a “Homília de São Bartolomeu”. A contribuição dessas mulheres para a história das ilustrações de livros está bem documentada . Senão vejamos .
No século XII São Thomas de Aquino , influenciado pela redescoberta de filósofos gregos como Aristóteles, Hipócrates e Galeno em sua insistência na natural inferioridade a mulher , teve como consequência não haver nenhuma contribuição feminina na Filosofia e Teologia Escolástica , as mulheres foram coibidas , portanto excluídas da vida intelectual das escolas das Catedrais e as Universidades , então a única alternativa foi o crescimento do misticismo que pela imaginária vívida e comentários inspirados , um discurso alternativo influente através de algumas mulheres . Eu diria que com criatividade as mulheres artistas da época foram capazes de expor suas ideias!
Um novo tipo de enciclopédia Cristã iluminada surgiu no século XII , encontrando sua completa expressão no trabalho de Herrad de Landsbergd e Hildegard Bingen. A Enciclopédia ilustrada “Hortus Deliciarum“ ou o “Jardim das delícias” escrito entre 1160-1170 por Herrad e o livro de conhecimento visionário de Hildegard de Bingen “O Scivias” iniciado em 1142 e terminado dez anos depois são duas das mais impressionantes compilações feitas por mulheres na história Ocidental .
Herrad , abadessa de Hohenburg (1167) perto de Strasburgo , dedicou o “Hortus Deliciarum as freiras de seu convento . (G. Camès, Allègories et Symboles dans Hostus Deliciarum. Leyden, 1971) O trabalho inicia-se com uma miniatura mostrando seis fileiras de cabeças femininas que incluem o nome de cada freira e noviça . Alguns nomes sugerem que Hohenburg , como todos os conventos medievais tinham entre seus membros pessoas de classe superior . Herrad entendia seu compendio “Hortus Deliciarum” como um desejável conhecimento sobre e assuntos religioso e secular para a educação das jovens meninas no convento . O compendio inclui uma compreensível história da humanidade bem com , uma historia natural do mundo pela variedade de autores citados na introdução . A inclusão de seu nome na última página do “Relindis” de sua professora e predecessora como abadessa nos oferece uma tangível evidencia da transmissão de conhecimento entre as mulheres na Alemanha medieval .
Hildegard de Bingen (Barbara Newman Sister of Wisdom: St.Hildegard`s teology of the femininee. Berkley, 1987.) deixou um corpo de trabalho sem paralelo em sua esfera , os textos nos quais descreve sua experiências religiosas são uma pequena fração de sua arte literária , mas tem particular interesse para os historiadores da arte pela sua imaginária visionária . Considerar Hildegard como uma simples parte da tradição feminina é insuficiente , pois ela exerceu uma profunda influencia como uma das muitas vozes alteadas a favor e como suporte para a Reforma Gregoriana . O reconhecimento papal estabeleceu o reconhecimento da reputação de Hildegard como a voz profética dentro da Igreja . Além do “Scivias” escreveu : sessenta e três hinos , uma peça sobre milagre e um longo tratado de nove livros sobre as diferentes natureza das arvores , plantas , animais , pássaros , peixes , minerais , metais , e outras substancias . Suas visões bastante compartilhadas com os conhecimento científico e religioso de sua época , lhe proporcionou a distinção de ser a única mulher que tem um volume inteiro devotado aos seus trabalhos nos “senhores” da Igreja oficial Patriologia Latina.
O “Scivias” (Conhecer os caminhos do Senhor) consiste em trinta e cinco visões relatando e ilustrando a história da salvação . A persona adotada por Hidegard para a expressão de sua visionária teologia era igual a muitos místicos do século XII, uma pessoa fraca , um depositário pacífico no qual a palavra de Deus penetrava . Ela mesma se considerava “uma pena na respiração de Deus”.
Barbara Newman identifica Hildegard de Bingen como a primeira pensadora cristã a trabalhar com seriedade e positividade com a ideia do feminino ao mostrar Eva , Maria e Eclésia e ou a Mãe Igreja . No fundo de seu mundo espiritual são as imagens visionárias da Sapientia e Caritas , e as formas femininas do Sagrado Saber e Amor Divino , foi a primeira mulher teóloga a personificar o amor como verdadeiramente uma bela mulher !
Todos esses estudos foram realizados e desenvolvidos a partir da década de 90. Pudemos observar que as mulheres continuaram invisíveis artistas , uma falácia que continuou , por séculos , deixando acreditar que não havia mulheres trabalhando nas escriptorias , iluministas , que não havia mulheres cultas que conheciam e escreviam em latim . Mulheres artistas ainda invisíveis por longo tempo .

Harrad Abadessa de Hohenburg (Alsacia) “Auto-retrato”
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