A Magia da Arte
- Liana Rosemberg
- 7 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Determinar quem ou o quê é a causa motriz da arte lembra a curiosidade quase infantil de descobrir os segredos de um mágico . Mas, existe uma diferença entre a mágica e a arte : a mágica pode ser explicada , basta ao mágico mostrar como consegue o tipo de ilusionismo capaz de enganar . Entretanto , o artista é incapaz de elucidar o processo responsável de transformar o conhecimento de anatomia e técnicas de afresco numa Capela Sistina . Como explicar a gênese da arte / o mistério da criação ?
Aos gregos coube , significativamente, a escolha de ---- nove deusas ---- nascidas do encontro romântico de Zeus e Mnemósina, deusa da memória. Segundo o poema de Hesíodo, Teogonia as musas ensinam ao poeta e aos pastores que sem história e sem arte o homem é um mero estômago ! Hesíodo na Teogonia salienta que tão logo nascem , as Musas instauram um coro e as festas , acompanhadas das Graças (Kárites) e do Desejo (Hímeros) . A arte das Musas não é apenas a da persuasão , mas a da sedução , mas , da envolvência da beleza e do apelo sexual.
Talia inspirava a comédia ; Melpômene , a tragédia ; Euterpe , a poesia lírica ; Érato, a poesia amorosa ; Terpsícore , a dança; Calíope , a poesia épica ; Urãnia , a astronomia ; Polímia , poesia sacra ; Clio a história.
Os versos da Teogonia demonstram a confiança no envolvimento direto das musas na criação artística , por conseguinte , essa foi a conclusão dos gregos sobre a origem da arte/gênese da arte , quando ainda , a partir de sua onipotência olímpica e amplo espectro de impulsos primários permitiam a livre conjunção do sagrado e do profano. Quando deixaram de vir a terra para ensinar aos pastores e ao poeta e fazer amor com os mortais , a cultura necessitou uma explicação alternativa de meios pelos quais essa força vital pudesse se expressar.

Com a separação entre Eros e Ágape pelo Cristianismo abre-se um profundo fosso entre a arte secular e a religiosa. A visão de Cristo na cruz é capaz de inspirar uma grande pintura da Crucificação como a como a de Duccio diBuoninsegna (museu da Catedral de Siena), resta a pergunta: e o poeta erótico ? Ficaria desanimado , triste ? Como já não mais havia deidades para tomar conta do lirismo , da canção de amor , da dança , torna-se necessária outra explicação para a criatividade, ou seja, para algo que não pode ser invocado ao nosso bel prazer, e que parece estar além do controle do artista . Busca-se a solução no mortal , pelo ato de apaixonar-se , para chegar à transcendência , sentimento de forças desagregadoras, incontroláveis ----- a paixão ----- um modelo para tentar compreender a Inspiração. Por que o artista pinta , esculpe , grava , escreve, fotografa , compõe e filma ? Deve estar apaixonado . E , eis que surge a senhora do trovador , objeto ideal , inalcançável do amor cortês , a qual se torna a candidata consensual situada em algum lugar entre a Virgem e a mulher de carne e osso, a mulher real.
Pela passagem do tempo esta progressão do etéreo para o corpóreo parece agora tão fluida e inevitável que quando Homero pede às deusas que cantem através dele , temos a compreensão que ambos , os artistas/poetas estão falando sobre a musa que os inspiram !
Podemos concluir que a figura feminina possui um papel preponderante como musa inspiradora para os artistas. A figura feminina é quase um sinônimo de beleza.
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