Mulheres artistas dos Países Baixos Holanda e Flandres

Na minha visão de historiadora da arte acredito que o contexto histórico , econômico e social influenciam o artista , um cidadão que vivencia o seu tempo , portanto , não surpreende que projete em suas obras seus sentimentos sobre a época na qual vive , muitas vezes pressagiando um futuro .

A pintura holandesa do século XVII permanece desafiando a história da arte na ênfase sobre a Renascença Italiana como modelo . Quando os artistas pelas interdições do Protestantismo contra as imagens religiosas no século XVII voltaram-se para a temática do cotidiano . A arte desenvolvida na Holanda no século XVII reflete o anti-humanismo de o Calvinismo holandês crescendo rapidamente e expandiu-se para as ciências naturais mudando a forma de vida das famílias urbanas que cresceram fora desta próspera literatura , a Cultura Protestannte .

O Protestantismo Holandês eliminou a Virgem Maria como modelo feminino , a falta de um forte movimento neoplatônico ao norte , impediu a identificação da forma feminina como o ideal na pintura . Portanto , o imaginário do lar assumiu um lugar central na iconografia holandesa . Dentro do lar o principal emblema da virtude doméstica era a imagem da mulher comprometida nos trabalhos de agulha . A imaginária do interior doméstico indica o contexto no qual se observa uma crescente e incrível prosperidade da República Holandesa através de bens materiais que completam a casa . As pinturas nos oferecem uma visão plural das realidades da vida social e econômica da Holanda na época .

Judith Leyster A Proposta

Judith Leyser detalhe da Proposta

MUDANÇA NA TEMATICA

Durante o séulo VXII a pintura serviu as finalidades domestica e científica ; que eram cuidadosamente observadas , prazeirosas ao olhar e também confirmavam a sabedoria e planos de Deus . Ciencia e arte encontram-se neste periodo na pinturas de flores e nas ilustrações botanicas . Afinal o microscopio fora uma invenção holandesa do final do século XVI e era aplicado ao estudo das plantas e animais , e aos sistemas de desenvolvimento da classificação de plantas . A iniciação da horticultura como atividade para saúde e prazer levou a um desenvolvimento de livros de flores , uma transição do modelo medicinal e prática de ervas para a apreciação apenas pela beleza que encorajou a prática da pintura de flores.

Durante o século XVII a colonização e exploração de outros continentes contribuiu para a importação de um vasto número de novas espécies . Segundo Herman Boerhaave (1688-1738) “praticamente nenhum capitão , fosse de navio mercante , homens de guerra , deixava nossos portos sem instruções especiais de coletar semente , raízes , galhos de todos os lugares e traze-los para a Holanda” . Entre 1590 e 1650 a Antuerpia e Utrech foram o maior centro de pintura a óleo de flores quem sabe por influencia do papel proeminente de Antuerpia na publicação sobre botanica durante a segunda metade do século anterior .

O primeiro grupo de pintoras de naturezas mortas e “flores” inclui Clara Peeters. O termo citado só apareceu no Países Baixos c.1650 essa pinturas tomavam nomes como “pequeno banquete” “pequeno café” . O primeiro trabalho de Peeters conhecido , assinado e datado é de 1608 . Harris e Noclin (Femmes Peintres 1550-1950 . 1981) identificaram seu trabalho como anterior a maioria das obras conhecidos exemplos da pintura de natureza morta flamenga que Clara fazia como “peça de café da manhã” pela mistura de frutas e pão. Embora algumas vezes incluisse flores nas suas composições de naturezas mortas pinturas só de flores são raras .

Clara Peters Peça do café da manhã Museu do Prado

Nesta a pintora mostra flores , nozes , pão enrolado , pretzels , jarra de estanho , um prato de Delft , uma taça vermelha e vidro que se destacam sobre um fundo escuro . A meticulosa delineação da forma e a imposição da simetria das suas pinturas junto ao seu virtuoso manuseio da superfíces espelhadas ( observem a jarra de estanho e as sombras dos objetos sobre a mesa) deve ter encorajado a expandir o gosto da pintura pela natureza morta mais tarde no século XVIII .

Na pintura abaixo reparem nos detalhes que permitem ao observador reconhecer os objetos representados O que aqui chamamos de Natureza morta o inglês classifica como still-life

Natureza Morte com peixes e crustácios Museu do Prado

detalhe de faca mostrando a habilidade da pintora

Maria Oosterwick , (1630-1693) filha de um Ministro da Holanda Reformada , Foi uma das mulheres pintoras que não era filha de pintor . Estudou com o eminente pintor de flores Davidzde Hem em Antuerpia em 1658 . Trabalhou em Delft , onde parece ter sido a única pintora profissional neste século , em Amsterdã e Haia . Seu primeiro trabalho datado “Vanitas” de 1668 , expressa a moral na transcendência das coisas do mundo e a vaidade da vida . Oosterwick incluiu um grande número de objetos , todos cuidadosamente pintados, inclusive pena e tinta como símbolos da vida profissional , livro caixa e moedas apontando para a riqueza e posse , instrumentos musicais e uma garrafa de licor como símbolos dos prazeres o mundo que logo acabam .

Vanitas Maria Oosterwick Kunsthistorich Museum Viena

Natureza morta flores com borboletas

Oosterwick trabalha devagar , construindo cuidadosamente composições com superfícies maravilhosas . A “natureza morta com flores e borboletas” (1686) mostra uma jarra de flores pousada num parapeito contendo muitos tipos de rosas , iris , e duas borboletas tavez o último símbolo da transcendencia da vida . Uma das pinturas de flores foi comprada por Luis XIV que foi seguida pela patronagem do Imperadores Leopold , William III da Inglaterra , Elector da Saxonia e a úlima Natureza Morta comissionada e comprada pelo Rei William e a Rainha Mary da artista após a sua visita a Inglaterra .

Rachel Ruysch foi encorajada em seu amor pela natureza por seu pai Frederick professor de anatomia e botânica um colecionador de fósseis , esqueletos , plantas e raros minerais . Os dons de Rachel foram detectados cedo e em 1679 foi encaminhada para estudar com Wilhem van Aelst o melhor pintor de flores e naturezas mortas . O introdutor da composição aspiral assimetrica que se tornou a marca de Ruysch . Suas primeiras obras remontam a 1682 . Rachel iniciou-se como profissional antes de completar vinte e aos setenta ainda tinha uma atividade arística , evidenciando uma energia fisica e artística transbordante . Em 1701 Tornou-se membro da Guilda De Haia. Entre !708 e 1713 foi pintora da corte em Dusseldorf até a morte do Elector Palatino Johan Wilhelm voltando a Amsterdã onde trabalhou até sua morte em 1750 com 86 anos .

Rachel Ruysch foi a primeira mulher a obter reputação internacional enquanto viva como grande artista cuja reputação não teve nenhum declínio visível mesmo após sua morte . Sua decisão de se especializar na pintura de flores e frutos a contribuiu para que fosse largamente apreciada . Seu estatus encorajou outra pintoras a seguir seu caminho . Margaretha Haverman uma pintora floral holandesa fez sucesso em Paris e foi unanimente eleita para a Academie Royale em 1722.

As pinturas florais de Ruysch são compostas ao redor de linhas de movimento circular em S marcadas por caules brancos e de ramos curvos . Temos que nos lembrar de que o realismo de Ruysch é uma representação ideal . Ela segue a doutrina de que o artista deve realizar uma seleção na natureza e pintar à perfeição aquilo que a natureza se mostra imperfeita . Entretanto, existe por trás do estudo de sua obra um profundo conhecimento de botânica e zoologia . Suas pinturas são uma síntese de interesse científico por uma gama e variedade de insetos descobertos na natureza e as tradições artísticas utilizadas . O resultado são bela visões de uma perfeição natural impossível! Uma Natureza Morta comissionada e comprada pelo Rei William e a Rainha Mary da artista após a visita a Inglaterra revela : A escala reduzida , a simplicidade da concepção , os caule ds papoulas brancas e dos cravos ao longo da borda inferior se estendem as duas bordas do painel de madeira , as tulipas se sobressaindo lembram composições florais bem anteriores de Jan Davidsde Heem e Wilhem van Aelst que poderiam ser seus mestres . Ela estava em evidencia na corrente da moda em vigor mas , a perfeição uma variante pessoal propiciando o refinamento nos detalhes sempre favorecendo os reflexos e texturas variadas assim como o simbólico mais importante que não era costume nas composições florais da época . Nesta obra a mosca no primeiro plano pode representar o pecado e a destruição dos bens desse mundo , o vaso de vidro e as flores a fragilidade da vida humana e as borboletas a ressureição . Estas composições florais não são apenas belos exemplos sofisticados dessa especialidade nórdica do século XVII ; seu conteúdo iconografico os fornecem mais complexidade em suas ambições artísticas do que aquelas da maior parte de seus contemporâneos .

Rachel Ruych Vaso de flores

Rachl Ruych Vaso de flores sobre mármore

As colônias holandesas das Índias Ocidentais e Orientais , América do Sul e o Cabo atuaram como mais um estímulo para as ilustrações botânicas e zoológicas . Sete volumes de desenhos Brasil por Albert van der Eckhout (1610-1665) nascido em Groningen , Holanda Integrou a corte do Conde Mauricio de Nassau-Siegen nos quase oito anos em que este governou o Brasil Holandês administrando a Companhia da Indias Ocidentais , era conviva do Conde com outro pintor Franz Jansz Post. Também faziam parte o cartógrafo e cientista alemão Georg Markgraf (Jorge Margrave) e Zacharias Wagener que viveu no Brasil Holandês entre 1634-1641 e legou o livro Thierbuch famoso pela extraordinária acuidade e fidelidade na descrição iconográfica que fez sobre bichos , plantas e frutos , gentes e costumes , habitações , construções e paisagens nordestinas com tal mérito que hoje seu legado perfila ao lado da mais famosa brasiliana de todas as épocas . (Clarivaldo do Prado Valadares e Luiz Emydio de Mello Filho Albert Eckout a presença da Holanda no Brasil século XVII . Alumbramento 1989)

Eckout Miguel de Casto enviado pelo Rei do Congo

EcKhout india do Brasil

Franz Post Forte Friederich Hendrid

Zacharias Wegener Tamanduá Bandeira

Na Holanda no século XVII os mais interessantes desenhos dessas ilustrações foram de Maria Sybilla Merian que transformou o campo da ilustração científica . Antes entomologista, Merian também foi reconhecida como excelente artista botânica após a morte de Nicholas Robert em 1680 . A arte de Merian derivou quase totalmente das grandes pintoras de flores do século XVII na Holanda . em 1664 tornou-se aluna de Johan Andreas Graff e subsequente esposa . Em 1675 sua primeira publicação , volume um da terceira parte da publicação do catalogo de gravuras de flores “Florum fasciculi três” apareceu em Nuremberg . Seguiu-se o segundo em 1677 e o terceiro em 1680 . Juntos tomaram o nome de “Neues Blumen Buch” (Novo Livro de Flores) , trablho menos conhecido do que seu trabalho sobre insetos contem belas gravuras pintadas de um jardim de fores colorido com extrema delicadeza.

Em 1679 Merian publicou o primeiro dos três volumes sobre insetos europeus ilustrado cm suas próprias gravuras . O segundo e o terceiro volumes apareceram e 1683 e 1717 e juntos compuseram o catalogo de 186 moscas e borboletas e outros insetos europeus produto de suas pesquisas e desenhos . Os insetos eram observados diretamente mais do que dos espécimes preservados nos gabinetes de colecionadores revolucionando as ciências da zoologia e botânica e ajudando a fixar os fundamentos para a classificação das espécies de plantas e animais realizada por Charles Linnaeus mais tarde no século XVIII . Convertida ao Labadismo uma seita religiosa, passando o inverno com as filhas numa comunidade labadista na colônia holandesa no Suriname Merian teve acesso a uma excelente coleção de insetos tropicais que trouxe consigo de volta a Holanda . Goethe relata que determinada a rivalizar com o naturalista francês Charles Plumier , patrocinada pelo governo holandês ela navegou para a América do Sul em 1698 com a filha Dorotéia , onde permaneceu por dois anos coletando e pintando insetos e flores que resultou no magnífico “Methamorfosis Insectorum Surinamensium” que apareceu em 1705 e foi traduzido em diferente idiomas . Embora o trabalho de Meriam continue interessando tanto aos historiadores da arte quanto aos naturalistas , seu interesse maior seria sempre a questão científica . Os livros de belas estampas estão entre as mais bonitas ilustrações científicas do período . Apresentei num Congresso um trabalho sobre as ilustrações de plantas em aquarela sobre plantas da Amazônia de Margareth Mee e de Maria Werneck sobre espécies vegetais em extinção . Possuo os dois livros verdadeiras obras de arte . Interessante observar que o desenho por sua condição detalhista ainda é preferível a fotografia . Se interessar o Museu da Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz) possui belos trabalhos .

Maria Merian

Transformação de borboleta

Metamorfosis Insectorum Surinamesium

a mulher que descobriu a origem

um croocodilo Manthus America do Sul

Margareth Mee Orquidea rara

Margareth Mee Flor da Lua

Essa flor só floresce uma vez ao ano em um dia a noite na primavera

Maria Werneck Plantas em extinção

Maria Werneck Plantas em extinção

Durante 1630 a tulipa levada da Turquia para a Inglaterra Elizabetana . Entre 1634-1637 fortunas foram conseguidas e perdidas , graças a tulipomania que dominou a nova economia com os mais famosos bulbos vendidos por milhares de vezes mais que qualquer pintura . Em 1637 a crise estourou . Embora Judith Leyster seja mais conhecida pela naturezas mortas , ela era uma excelente aquarelista que fazi ilustrações botânicas incluindo um prêmio de uma simples tulipa "Yellow-Red of Leiden" para o Livro Tulipas um catálogo de venda commicionado por vendedores de bulbos .